segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

LAURA


            Uma tempestade de raios se aproximava. Correndo abaixo dela, um pontinho escuro desviava das árvores em uma decida íngreme e cheia de obstáculos. Não estava fugindo do granizo que começava a cair. Tropeçando no caminho, ele se arrastou para dentro da cabana, agradecendo a Deus por ter conseguido. Não perdeu tempo em colocar a barra de ferro na porta. 

            Arrancou todos os botões que fechavam a camisa. Estava ofegante e coberto de suor, suas pernas pulsavam, sentia o coração na garganta, sujo de terra por ter caído e rolado em alguns momentos, tinha arranhões pelo corpo e lhe faltava a unha de um dos indicadores. Uma entorse no tornozelo agora o fazia mancar como um pirata com perna de pau. Deitando no assoalho, tentou respirar conscientemente para se acalmar, se dando conta do movimento das narinas ao aspirar o ar viciado da choupana alugada. Mas tudo o que conseguia ver  em sua mente era a ereção abissal do unicórnio.

            Pobre Laura, pensou. 

           A criatura não era benevolentes como seu avô garantiu. Um ser que se alimentavam de luz solar, e que só pode ser capturadas usando uma virgem como isca. Tentou se lembrar da cara de buldogue e da personalidade convencida, mas até a lembrança da maneira grosseira que a mulher tinha de responder, partiam seu coração. Queria se convencer que culpa não foi totalmente sua, afinal, por mais desesperada que uma virgem de 50 anos seja, um sinal de alerta deveria se acender quando você começa a falar de seres mágicos vivendo na floresta.

            Uma azul começou a iluminar o lugar devagar com a chegada da noite. Parecia algo que escapa de um tonel com resíduos radioativos. Talvez não fosse tão mau se havia esquecido daquilo. 

            Trouxe o objeto para perto dos olhos. Sua mão tencionada segurava um pedaço do chifre espiralado do animal mítico, era pouco menor que uma caneta esferográfica. O sorriso aos poucos passou a transmitir dor e sofrimento ao lembrar do preço que pagara por aquilo. Começou a se cortar com o chifre, mas de uma maneira automutilada e não suicida, assim como fazia quando se sentia bem demais e deixava de tomar os reguladores de humor.

          Do lado de fora, Laura se aproximava seminua da porta dos fundos. Ela sorria exultante, coberta por pequenas partículas brilhosas e coloridas, parecidas com purpurina. Era esperma de unicórnio.

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