A coisa sentou-se do seu lado. O tipo que não gostava; uma anomalia tatuada e com maquiagem exagerada, soltando fumaça doce pela boca. Fechou o livro e lhe entregou uma nota amassada, para que comprasse uma calça nova. Ela enfiou o dinheiro na boca, mastigou feito uma vaca e engoliu.
Foram para a casa dela, onde em pouco tempo ficou nua da cintura para baixo. Era um dia quente e tiveram que ficar com as janelas abertas. Um ventilador imundo dependurado na parede do quarto parecia atrapalhar mais do que qualquer outra coisa. Sentia o lodo aumentando entre as pernas, mas ela pedia para não parar, e de vez enquanto se limpava com a colcha. Nunca havia sido tão feliz, suando enlouquecidamente naquele quarto rosa, com tinta descascando das paredes.
Meses depois, subindo pelas escadas, ele refletia sobre o assunto. Imaginava a possibilidade de tudo ter sido uma armadilha. Forçava os músculos das pernas, sentindo os tornozelos como se estivessem fraturados. Podia ouvir o motor do elevador, os cabos sendo puxados e as polias mal lubrificadas girando. Já estaria no sofá, mas ela disse que precisava emagrecer.
Abriu a porta e a encontrou no tapete com o gato do lado e aquela barriga inflada cheia de desenhos, com um dos pés inchados em cima da mesinha. Estava assistindo alguma coisa, talvez um dos pornôs, por causa do aumento da progesterona e do estrogênio.
"Como está o bebê?", ele perguntou.
"Morto", ela respondeu, mastigando batatinhas.
"Isso é coisa que se diga..."
Mas era verdade. Graças a Deus.
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